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quarta-feira, 7 de março de 2012

Reflexao Segundo Domingo Quaresma


2º DOMINGO DA QUARESMA - 04 DE MARÇO DE 2012 - 
I. Faça uma leitura pausada das seguintes leituras: 
 
Gênesis 22,1-2.9-13.15-18 
Salmo: 115
Romanos 8,31b-34 
Marcos 9,2-10 
 
II. Reflexão:
Gênesis 22,1-2.9-13.15-18 

O objetivo original deste texto é insistir na supressão dos sacrifícios humanos, que foram praticados pelos povos que estavam estabelecidos na terra de Canaã, na época em que o Povo de Israel se estabeleceu neste território.  Podemos perceber claramente a mudança de vítima: Isaac é substituído por um animal. Deus não quer sacrifícios humanos e, óbvio, não quer que o ser humano seja sacrificado por condições injustas de vida.

O texto insiste também na figura de Abraão. Tal como aparece na Bíblia, Abraão é um modelo para o crente do Povo de Israel. Também para o cristão, Abraão pode ser um modelo que ajude o discípulo de Jesus na sua caminhada espiritual. Três características de Abraão chamam particularmente a atenção: a escuta da Palavra de Deusa obediência a Deus e a generosidade (Ele é capaz de entregar tudo). O leitor que meditar esta leitura deve examinar a partir destas características, a sua fé.

A leitura quer também sublinhar um aspecto importante na experiência da fé: a gratuidade. Essa gratuidade consiste na capacidade de se desprender daquilo que Deus tem dado (neste caso o Filho) para ficar só com Deus. Com frequência o crente pode fazer depender sua fidelidade a Deus, motivado pelos dons que d’Ele recebe. É preciso permanecer fiel a Deus não pelos dons que Ele dá, mas, porque Deus é Deus. Isto é o que quer afirmar o relato. A mesma lógica aparece proposta na primeira parte do livro de Jó.

Deve-se ter cuidado de pensar que Deus pede uma obediência cega por parte do ser humano. A obediência cega não é humana. A obediência deve ser razoada e razoável. Devemos obedecer aquilo que é concorde com os grandes valores e se ajusta a um projeto que protege a vida e a dignidade humana. É preciso, portanto, saber obedecer e também saber desobedecer.

É interessante perceber que o relato desabrocha numa bênção: Deus abençoa Abraão pela sua fé, fidelidade e obediência; Deus reorienta o sentido do sacrifício e transforma Abraão numa bênção para os outros. Esta mesma experiência acontece na verdadeira caminhada espiritual. Deus nos abençoa e nos transforma em bênção. Ser uma bênção para os outros é a nossa missão.

É importante não esquecer que para o leitor atual do relato, é claro que se trata de uma provação a qual Abraão é submetido, mas, se nos situarmos no lugar de Abraão deveremos captar que ele não sabe. 

Salmo: 115


O Salmo 115 quer reforçar o conteúdo proposto pela primeira leitura. Trata-se de uma ação de graças, que pretende motivar o crente para viver uma experiência de fé viva. O salmista passou por uma experiência de enfermidade grave, mas Deus o liberta. O salmista interpreta isto como um sinal do grande amor de Deus e canta. Aparecem no Salmo alguns aspectos chaves na caminhada da fé:

1.     A verdadeira fé não se esgota na dimensão ritual. O crente deve caminhar na presença de Deus. Só aquele que ama e pratica o bem caminha “na presença de Deus”. Na verdade sempre estamos na presença de Deus. O que compete ao crente é ter consciência desta presença e agir em harmonia com o Deus que se torna seu companheiro de vida. 

2.     O salmista mantém a fé ainda no momento da provação. A fé aparece – desde a experiência do salmista – como uma atitude profunda de confiança no amor de Deus, na sua misericórdia. 

3.     Deus não quer a morte dos seus filhos (aqui está o eco à primeira leitura).

4.     O crente compreende que diante do amor de Deus ele não pode senão ser seu servidor. Ser servidor de Deus e de seu projeto não é algo que deva ser entendido como uma perda de autonomia ou como diminuição da liberdade. É preciso então distinguir entre ser servidor e ser servil. Deus quebra as cadeias que escravizam a pessoa para que esta, gozando de sua liberdade, se torne servidora. 

5.     Toda esta experiência de amor e de passagem da escravidão para o serviço leva o salmista a cantar, a oferecer à Deus um sacrifício de louvor, mas esse sacrifício de louvor não é já o sacrifício de uma pessoa (rejeitado já pela primeira leitura), senão a maneira de viver na verdade, na justiça e no serviço. Esse é o verdadeiro sacrifício de louvor. Por isso, do que se trata não é de multiplicar os sacrifícios rituais e externos senão de “cumprir a Deus os votos”. Isto equivale a ser fiel a Deus que tem feito conosco uma aliança de amor.


Marcos 9,2-10 


O Evangelho completa a proposta desta semana convidando-nos a caminhar com Jesus e a subir com Ele a montanha santa, para viver a transfiguração. Este relato da transfiguração, que teologicamente se apresenta como uma PÁSCOA antecipada que prepara os discípulos para assumir o drama da paixão, está construído como um conjunto de elementos simbólicos que devem orientar a experiência espiritual:

·        A palavra transfiguração nos situa no terreno da transformação, do câmbio. Aqui se trata da transformação que Deus opera nas pessoas, da transformação que a autêntica caminhada espiritual deve suscitar. Notemos que esta transformação acontece na montanha (subir a montanha não é simplesmente um exercício físico. Na Bíblia é o símbolo da caminhada espiritual, da busca de Deus, do diálogo com Deus). Uma pessoa que vive uma forte experiência de encontro com Deus não pode não viver a sua transfiguração.
·        O texto começa indicando que a subida à montanha santa e a transfiguração acontecem seis dias depois de ter começado a viagem que terminará em Jerusalém com a Paixão (a entrega total). Estes “seis dias” trasladam o leitor ao texto do Livro do Gênesis em que Deus está criando. O que está acontecendo nesta caminhada de Jesus com seus discípulos e o que vai se revelar no Monte Santo com a transfiguração é uma nova criação. Deus em Jesus está operando uma nova criação.
·        Jesus chama três dos seus discípulos. Estes discípulos representam a comunidade toda; os discípulos de todos os tempos. Atenção ao número três. Cada discípulo (a) de Jesus deve se sentir chamado (a) a caminhar com Jesus, a participar do seu projeto (o Reino de Deus), a continuar a sua missão, a entrar na sua Paixão e correr o risco da doação total.
·        Insiste-se na cor branca que deslumbra os discípulos.  A cor branca simboliza a pertença a Deus, a integridade da mudança operada. O crente já não pertence ao mal senão ao bem, está a serviço do bem e orienta toda sua vida ao encontro do BEM SUPREMO, Deus.  As vestes brancas expressam externamente a vida interior. As vestes brancas simbolizam a vida que Deus dá e que o crente deve cuidar. Por isso, estas vestes brancas aparecem ritualmente na celebração do batismo. O compromisso é conservar brancas as vestes... permanecer unido a Deus.
·        Aparecem dois personagens importantes do Antigo Testamento (Moisés e Elias), que falam com Jesus. Trata-se de um encontro especial do Antigo Testamento com o Novo Testamento; das promessas com seu cumprimento e realização na pessoa de Jesus. Esta é uma maneira muito criativa de mostrar que tanto a Lei como os Profetas apontam para Jesus e n’Ele se explicita o seu verdadeiro sentido. Jesus é o definitivo profeta de Deus e aquele que promulga a Nova Lei, que já não consiste no Decálogo, mas no único mandamento do amor a Deus e ao próximo.
·        Pedro e seus companheiros querem fazer três tendas: A tenda é algo muito importante para as comunidades nômades. Lembremos que o Povo da Bíblia originalmente foi um povo nômade. Lembremos a tenda do encontro, plantada no centro da comunidade que caminhava seguindo a direção que Deus dava através de Moisés. As tendas, então, no relato da transfiguração, nos colocam em relação com a experiência do Êxodo: caminhar, guiados por Deus, para conquistar a liberdade e entrar na aliança de vida com Ele. O Povo guiado por Moisés é um grande grupo que caminha (vive) com Deus no centro. Isto é o que devemos viver. A importância desta tenda não estava nela mesma, senão no encontro com Deus. O mesmo pode ser dito dos nossos templos e das nossas capelas: o importante não é elas em si mesmas, mas no encontro com Deus...elas existem para nos ajudar a viver esse encontro.
·        Notemos a presença do número três (3): 3 seres celestiais (Moisés, Elias, Jesus); 3 discípulos (Pedro, Tiago e João), 3 Tendas (Êxodo). Três = comunidade, perfeição, plenitude. Trata-se da proposta de construir comunidade para procurar a perfeição no amor.   Este projeto não está feito; os discípulos devem trabalhar neste projeto ao descer da montanha, por isso não ficam no cume, mas vão ao encontro do povo...; devem enfrentar o risco da missão. Nós tambémdevemos descer da montanha (sair dos templos) para encontrar a comunidade (família-sociedade) e construir comunidades vivas no amor de Deus.   A experiência da transfiguração envia os discípulos a missão. Isto é válido também para nós, hoje.
·        E esta experiência está acompanhada pela nuvem: com este fenômeno o evangelista nos transporta aos relatos teofânicos do Antigo Testamento: Deus se torna presente e fala a comunidade. A nuvem significa chuva e vida, realidades ligadas a Deus e lidas como benção. A nuvem é, pois, sinal visível da presença de Deus que acompanha o povo pelo caminho; ainda mais, presença que mostra o caminho, a direção. E desta nuvem sai uma Palavra de revelaçãoEste é o meu filho muito amado, escutai-o. Trata-se de uma apresentação formal: Deus Pai apresenta seu Filho ao mundo e pede dos ouvintes uma atitude fundamental:escutar.  Escutar Jesus para aprender d’Ele a verdadeira sabedoria divina. Como estamos vivendo esta experiência? Trasladamo-nos ao livro do Deuteronômio em que Moisés interpela o povo dizendo: Escuta, Israel.

III. Para a reflexão pessoal

Para terminar, proponho alguns pontos que podem nos ajudar nesta caminhada espiritual da Quaresma.

1)     Acredito na Palavra de Deus do mesmo modo que Abraão acreditava nela?
2)     Sou capaz – como Abraão de entregar tudo a Deus?
3)     Assumo tarefa de subir a montanha para procurar em Deus a direção da minha vida?
4)     Como a experiência vivida na Igreja está me ajudando a entrar realmente num processo de transfiguração?

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