Mulheres e Evangelização
"Deus é mais mãe do que
pai”
(João Paulo I)
Uma irmãzinha albanesa, sem
pudores. Agarrou com seu corpo franzino o homem debilitado, leproso – e ainda
mais franzino que ela – com toda força e cuidado. Colocou-o numa espécie de banheira
e o limpou, ferida por ferida, chaga por chaga. Um banho demorado e difícil.
Doloroso para ambos. Um jornalista estrangeiro, que acompanhava o trabalho
dessa irmã nos confins da Ásia, não conseguiu disfarçar o asco que sentiu ao
ver aquela cena. Ao observar as manchas de sangue e pus na vestimenta da
religiosa, comentou, sem bem pensar, que nem por um milhão de dólares faria
aquilo. Ao que, espirituosamente a mulher respondeu:
“- O senhor não daria banho em um leproso nem por um milhão de dólares? Nem
eu. Somente por amor se pode dar banho em um leproso.”
É impossível não reconhecer em Agnes Gonxha Bojaxhiu uma inspiração
poderosa para as mulheres que se identificam à razão de ser e existir da
Igreja: evangelizar. Ao mesmo tempo, é salutar que detectemos nela,
características própria de seu gênero feminino que nos iluminam (aos homens,
principalmente) no quefazer
evangelizador. Falemos, provocativamente, de três.
O amor incondicional, como o de uma mãe. Alguém pode questionar: “-
Mas o amor não é algo que independe de gênero?” Sim, é verdade. O amor de uma
mãe por seus filhos é, no entanto, a última instância de referência daquele que
divinizou o amor entre os seres humanos. O amor de Deus, reconhecem os
místicos, é, apenas, metaforicamente comparável ao amor de uma mãe. O cuidado no jeito de ser, como de uma
educadora. A mística do cuidado tem a ver com a pergunta sobre que tipo de
mundo criaríamos se, no lugar de nos inclinarmos à competição, praticássemos
coletivamente, o exercício da aceitação, do acolhimento, do importar-se e da
compaixão? Não é sem razão que os educadores mais marcantes da nossa infância
são mulheres. E, por fim, a sensibilidade
intuitiva, como de uma profeta. A capacidade da mente feminina de fazer
muitas coisas ao mesmo tempo é graças às infinitas conexões inconscientes que a
habilitam fazer – conscientemente – escolhas que os homens não tem tanta
clareza e rapidez de decisão. É antever soluções a desafios que ainda se
perfilam.
Para quem
não sabe, Agnes Gonxha Bojaxhiu é uma personagem emblemática da
recente história eclesial e, também, mundial. Sua vida, serviço e reflexões
transbordaram as fronteiras do país em que trabalhou, a Índia, e da Igreja na
qual se consagrou, Católica, para ocupar um espaço inédito no âmbito das
personalidades humanas dignas de um prêmio Nobel da Paz. E ganhou. O fundador
do prêmio, o sueco Alfred Nobel, teve, em Agnes, um novo paradigma para a entrega deste símbolo da luta
pelos Direitos Humanos. A Igreja, nesta mulher, ressignificou a riqueza do
feminino e da fraternidade no mundo pós-moderno.
Agnes
Gonxha Bojaxhiu não nasceu Madre Teresa de Calcutá. Se tornou. Como ser humano
em construção, conseguiu levar até a última instância seu propósito existencial
e eclesial de dar dignidade aos mais desprezados, de humanizar os
desumanizados. Os últimos dos últimos. Mas esse caminho ela só conseguiu fazer
porque, antes, se permitiu radicalmente humana.
E, por
tão humana, plenamente mulher.
Parecida
a Deus.
Na raça e
na paz Dele,
J. Braga.
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